Monday, January 01, 2007

Poema para o Ano Novo

Este ano não fiz nenhuma resolução de ano novo com a certeza que nada de bom este ano me trará. Contudo, pensei que pelo menos hoje o meu blog não devia mostrar o que sinto mas sim o que gostaria de sentir. Por isso em vez de angustia de sempre hoje há calma. Pensei logo em Alberto Caeiro.

Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo eu
Beleza às coisas.

Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe
Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então porque digo eu das coisas: são belas?

Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as coisas,
Perante as coisas que simplesmente existem.

Que difícil ser próprio e não ser senão o visível!
[Alberto Caeiro]

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